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sábado, 4 de abril de 2015

A Mulher na cozinha

1975. Em Semiotics of the Kitchen, Martha Rosler faz uma demonstração de utensílios de cozinha por ordem alfabética. A sua figura relaciona-se com uma apresentadora de um programa de cozinha. O que normalmente seria didáctico e produtivo, transforma-se numa ironia para criticar o papel da mulher na sociedade. A fada do lar aparece frustrada. Enquanto nos apresenta os objectos, utiliza gestos que se afastam da sua utilidade. Gestos violentos que enfatizam a vontade de afastar a mulher dos símbolos da cozinha. Cria a sua própria linguagem através do corpo. Rosler, enquanto feminista, deseja que a mulher se liberte do comodismo tradicional, das estruturas de poder e de submissão. Também se opõe a esse formato de programa: a mulher na cozinha a cozinhar (peço desculpa pela redundância) para os filhos e para o marido. Acaba por mergulhar no contexto onde está inserida e é transformada, também, num utensílio da indústria doméstica. Como se a obrigação da mulher fosse vomitar comida pelas mãos todos os dias…para servir uma sociedade conservadora e machista. Apesar deste vídeo/performance ter sido feito num contexto onde o lugar da mulher não era tão discutido como hoje em dia, penso que estas questões estão pouco ou nada resolvidas. E agora vamos todas e todos cozinhar alguma coisa enquanto espetamos um garfo no ar à nossa volta, numa tentativa de o tornar harmonioso e tranquilo.

Como defensora de mim mesma e como alguém que “nem tanto ao mar, nem tanto à terra”, cheguei a um impossível lugar-comum: somos todos iguais. Mas não...


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