1975. Em Semiotics of the Kitchen,
Martha Rosler faz uma demonstração de utensílios de cozinha por ordem
alfabética. A sua figura relaciona-se com uma apresentadora de um programa de
cozinha. O que normalmente seria didáctico e produtivo, transforma-se numa
ironia para criticar o papel da mulher na sociedade. A fada do lar
aparece frustrada. Enquanto nos apresenta os objectos, utiliza gestos que se
afastam da sua utilidade. Gestos violentos que enfatizam a vontade de afastar a
mulher dos símbolos da cozinha. Cria a sua própria linguagem através do corpo.
Rosler, enquanto feminista, deseja que a mulher se liberte do comodismo
tradicional, das estruturas de poder e de submissão. Também se opõe a esse
formato de programa: a mulher na cozinha a cozinhar (peço desculpa pela redundância)
para os filhos e para o marido. Acaba por mergulhar no contexto onde está inserida
e é transformada, também, num utensílio da indústria doméstica. Como se a
obrigação da mulher fosse vomitar comida pelas mãos todos os dias…para servir
uma sociedade conservadora e machista. Apesar deste vídeo/performance ter sido
feito num contexto onde o lugar da mulher não era tão discutido como hoje em
dia, penso que estas questões estão pouco ou nada resolvidas. E agora vamos
todas e todos cozinhar alguma coisa enquanto espetamos um garfo no ar à nossa
volta, numa tentativa de o tornar harmonioso e tranquilo.
Como defensora de mim mesma e
como alguém que “nem tanto ao mar, nem tanto à terra”, cheguei a um impossível lugar-comum:
somos todos iguais. Mas não...
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