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quarta-feira, 8 de abril de 2015

Avó in black

Certo dia, ia eu a passear na rua quando parei à entrada de uma das portas da adolescência. Entrei. Que remédio. Como a uns lhe dá na direita e a outros na esquerda, a mim deu-me no preto. Na altura, isto seria um assunto muito sério e falar nele nem pensar. Estou agora a começar a entender que os problemas de então tiveram a sua expressão e importância. Mas são hoje relativizados. A minha posição relativamente ao mundo foi, drasticamente, alterada. Contra tudo e contra todos. Ainda hoje me entendo, sinceramente. Revoltas e música aos berros (tão em mim ainda) à parte, comecei a vestir-me INTEIRAMENTE de preto. Os eyeliners e as madeixas também vieram no pacote. As unhas com verniz preto...já sem verniz, roídas. Uma ponta de vermelho ali que fica tão giro. As correntes, as botas, os rasgos, o não me chateies e o sou tão diferente. O ar de I don’t give a fuck (que ainda tenho) que tinha e juro, realmente não queria saber. Todos encontramos o nosso “eu” algures na vida. Tive a sorte de encontrar o meu ainda cedo.
Este discurso todo para dizer o seguinte: a minha avó nunca entendeu o porquê de eu me vestir de preto. Mas que explicação é que eu podia dar? Porque gosto, avó. Porque sim, avó. Opá porque gosto, olha, queres o quê. Então ela insistia: mas morreu alguém para andares sempre de preto? As velhas é que andam de preto. A minha avó não se veste de preto como aquelas carpideiras eternas. Até é bastante flexível no que diz respeito aos padrões desde que as cores não passem do azul-escuro, verde-escuro, castanho, cinza e preto. E de vez em quando um rosinha. Vermelho, credo, nem pensar. “Que cor tão acelarada”, diz ela. Quando pintei o cabelo de vermelho (que prolongo até hoje) só me disse (ainda hoje diz): tinhas um cabelo tão bonito e foste estragá-lo…

Hoje em dia e passados alguns anos, já não inferiorizo as outras cores. O preto não me larga mas deixa-se ser combinado com alguns padrões e cores. As correntes foram substituídas por bijuteria que percorre todo o círculo cromático. Os olhos andam despidos de murros. Não percebo o porquê de tanta gente ter vergonha do que fez (ou vai fazer). Tudo isto faz parte de nós e contribui, não só para o nosso crescimento mas, essencialmente, para a formação da nossa personalidade. Boa, má, ou assim-assim.

relembrando músicas adolescentes

1 comentário:

  1. Olá Minha Flor, tudo bem?
    Serio, os seus textos são lindos, nossa eu amei de novo rsrsrs
    Nos fazem refletir de uma forma muito gostosa, eu amei!
    Amei essa parte: ''Hoje em dia e passados alguns anos, já não inferiorizo as outras cores.
    O preto não me larga mas deixa-se ser combinado com alguns padrões e cores.
    As correntes foram substituídas por bijuteria que percorre todo o círculo cromático.''

    Beijokas da Carol e da Camila :*
    www.vamospapear.com

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