Certo dia, ia eu a passear na rua
quando parei à entrada de uma das portas da adolescência. Entrei. Que remédio. Como
a uns lhe dá na direita e a outros na esquerda, a mim deu-me no preto. Na
altura, isto seria um assunto muito sério e falar nele nem pensar. Estou agora
a começar a entender que os problemas de então tiveram a sua expressão e importância.
Mas são hoje relativizados. A minha posição relativamente ao mundo foi,
drasticamente, alterada. Contra tudo e contra todos. Ainda hoje me entendo,
sinceramente. Revoltas e música aos berros (tão em mim ainda) à parte, comecei
a vestir-me INTEIRAMENTE de preto. Os eyeliners e as madeixas também vieram no
pacote. As unhas com verniz preto...já sem verniz, roídas. Uma ponta de
vermelho ali que fica tão giro. As correntes, as botas, os rasgos, o não me
chateies e o sou tão diferente. O ar de I
don’t give a fuck (que ainda tenho) que tinha e juro, realmente não
queria saber. Todos encontramos o nosso “eu” algures na vida. Tive a sorte de
encontrar o meu ainda cedo.
Este discurso todo para dizer o
seguinte: a minha avó nunca entendeu o porquê de eu me vestir de preto. Mas que
explicação é que eu podia dar? Porque
gosto, avó. Porque sim, avó. Opá porque gosto, olha, queres o quê. Então
ela insistia: mas morreu alguém para
andares sempre de preto? As velhas é que andam de preto. A minha avó não se
veste de preto como aquelas carpideiras eternas. Até é bastante flexível no que
diz respeito aos padrões desde que as cores não passem do azul-escuro, verde-escuro,
castanho, cinza e preto. E de vez em quando um rosinha. Vermelho, credo, nem
pensar. “Que cor tão acelarada”, diz
ela. Quando pintei o cabelo de vermelho (que prolongo até hoje) só me disse
(ainda hoje diz): tinhas um cabelo tão bonito e foste estragá-lo…
Hoje em dia e passados alguns
anos, já não inferiorizo as outras cores. O preto não me larga mas deixa-se ser
combinado com alguns padrões e cores. As correntes foram substituídas por
bijuteria que percorre todo o círculo cromático. Os olhos andam despidos de
murros. Não percebo o porquê de tanta gente ter vergonha do que fez (ou vai
fazer). Tudo isto faz parte de nós e contribui, não só para o nosso crescimento
mas, essencialmente, para a formação da nossa personalidade. Boa, má, ou assim-assim.
relembrando músicas adolescentes |
Olá Minha Flor, tudo bem?
ResponderEliminarSerio, os seus textos são lindos, nossa eu amei de novo rsrsrs
Nos fazem refletir de uma forma muito gostosa, eu amei!
Amei essa parte: ''Hoje em dia e passados alguns anos, já não inferiorizo as outras cores.
O preto não me larga mas deixa-se ser combinado com alguns padrões e cores.
As correntes foram substituídas por bijuteria que percorre todo o círculo cromático.''
Beijokas da Carol e da Camila :*
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