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sábado, 9 de maio de 2015

O umbigo


É com esta frase que começa o livro Um Rio Chamado Tempo, Uma Casa Chamada Terra (2002) do escritor Mia Couto
Na morte, a vida torna-se ausente. Mas terá isso alguma importância? Será que esse momento marcado e datado na história das pessoas, é assim tão decisivo? Ou será apenas um sinal de vida? Todos carregamos uma cicatriz. Raramente nos lembramos dela. Os umbigos conseguiram ganhar um estatuto no nosso corpo. São feios e horríveis mas, mesmo assim, passam despercebidos. Simplesmente porque escolhemos, inconscientemente, não os ver. Fingimos que não estão lá porque lá pertencem. Se eles, de repente, saíssem do seu lugar anatómico, a nossa barriga iria perder toda a expressividade. Iria perder uma boca ou um olho, conforme olharmos para ele. Iria perder uma cavidade que nada lhe oferece e nada lhe retira. Não temos memória do nosso nascimento. Nem do parto de quem nos pariu. Ainda bem. Carregamos esta cicatriz sem a memória do nosso cordão umbilical. Temos uma marca de vida. De morte. Carregamos connosco uma viagem. Uma viagem com bilhete de ida apenas. Ida para a morte. Mas, tal como o umbigo, a morte não é assim tão má. Afasta-se da vida. Corta-se de tudo. Desprende-se de tantos cordões. Depois, uma ferida. Depois, uma cicatriz. Depois, a inconsciência de ter sido algo. Alguém. Um vazio com forma. Uma forma vazia e cheia de memórias. A morte passa a ser um momento de acontecimentos passados. A morte dilui-se. Olha-se ao espelho e vê, no seu umbigo, uma lembrança. Quem e aquilo que morre passa a ser apenas uma marca de quem/daquilo que foi. Nós, vivos, sabemos disso.

12 comentários:

  1. Bem interessante o texto, gostei. Beijos

    http://tendenciateenoficial.blogspot.com.br/

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  2. Ótimo texto, gostei da frase do livro!
    Um beijo

    Dicas para Todas

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  3. Great post dear, follow me on gfc and i Follow you back, kisses

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  4. Acho a morte muito complexa principalmente para superar, falo por experiência própria por ter perdido alguém muito próximo. Na verdade nunca se supera apenas atenua.
    Beijinhos
    http://virginiaferreira91.blogspot.pt/

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  5. Nunca tinha pensado nisso, mas essa frase faz muito sentido!!!

    Bjxxx

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  6. Ter uma rotina assim já é meio caminho andado :D Espero que o creme tenha fator proteção UV :p
    Eu uso mais produtos para conseguir regular alguma oleosidade da zona T senão acho que nem ligava tanto a isto!

    A morte é um tema que me custa muito falar. Não só pelo que envolve, pelo que virá depois e pelo sentimento vazio com que se fica! Doi, só de pensar!!

    InstagramFacebook Oficial PageMiguel Gouveia / Blog Pieces Of Me :D

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  7. very nice post!
    would u like to follow each other..?
    pls let me know..
    Have a nice Sunday
    isidora
    http://highheelpoodl.blogspot.com

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  8. A morte é muito difícil de aceitar.

    Isabel Sá
    https://brilhos-da-moda.blogspot.pt

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  9. Excelente reflexão e mais um texto brilhantemente escrito! Apesar de ser difícil lidar com a morte é como dizes, com o tempo aprendemos a viver com a falta de quem não está. E é bem verdade que o tempo dilui tudo: de uma ferida que ao principio dói demasiado e parece não cicatrizar passamos a ter uma marca, cada vez mais pequenina e menos dolorosa até ao momento em que a dor nem chega a ser um desconforto nas nossas memórias.
    beijinhos
    http://direitoporlinhastortas-id.blogspot.pt/

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